O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta terça-feira (8), no Palácio da Alvorada, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em visita de Estado ao Brasil. A cerimônia contou com toda a pompa do cerimonial da Presidência da República, reconhecido internacionalmente pela sua presteza e organização.
O jornalista Carlos Magno, de Canaã dos Carajás (PA), que retornava da cobertura da XVII Reunião da Cúpula do BRICS e cumpria uma escala de aproximadamente dez horas no Aeroporto de Brasília, aproveitou a oportunidade para registrar a visita oficial do líder indiano à capital federal.

Após participar da cúpula do BRICS, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, Modi seguiu para Brasília acompanhado de diversos ministros do seu governo. Na chegada ao Palácio da Alvorada, passou em revista as tropas e foi recepcionado pessoalmente pelo presidente Lula.
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência não informou o motivo da cerimônia não ter ocorrido no Palácio do Planalto, como é de praxe. Uma possível explicação seria uma pequena reforma em andamento na área externa do edifício.

Em seguida, os dois líderes participaram de uma reunião de trabalho com a presença de ministros de ambas as delegações. Durante o encontro, o presidente Lula condecorou Narendra Modi com o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Grã-Cruz – a mais alta honraria concedida pelo governo brasileiro a cidadãos estrangeiros.
Ao final do encontro, Lula fez uma declaração à imprensa. Confira a seguir a íntegra do pronunciamento:
Declaração do presidente Lula durante a visita do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi
É uma enorme satisfação receber o primeiro-ministro Modi.
Dois países superlativos como a Índia e o Brasil não podem permanecer distantes. A solidez das nossas democracias, a diversidade das nossas culturas e a pujança das nossas economias nos aproximam naturalmente.
Estive à frente da celebração da Parceria Estratégica Brasil–Índia em 2006. Muita coisa mudou desde então. As ameaças à paz, à prosperidade e ao planeta se intensificaram.

Reiterei ao primeiro-ministro Modi minhas condolências pelo recente atentado na Caxemira e reafirmei nosso repúdio a todas as formas de terrorismo. A negociação de um cessar-fogo entre Índia e Paquistão é um exemplo de sensatez para o mundo.
Como membros do G20 e do BRICS, atuamos em defesa do multilateralismo e de uma governança global mais inclusiva. O primeiro-ministro Modi afirmou corretamente, na Cúpula do BRICS, que é impossível rodar um software do século XXI em velhas máquinas de escrever do século XX.
É inaceitável que países do porte da Índia e do Brasil ainda não tenham assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU.
Somos aliados naturais no enfrentamento aos grandes desafios da atualidade: a erradicação da fome e da pobreza, e a luta contra as mudanças climáticas. Agradeci à Índia pela participação ativa na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Nossa pecuária deve muito à Índia. Cerca de 90% do rebanho zebuíno brasileiro é resultado de 60 anos de cooperação bilateral em melhoramento genético. As matrizes vieram, principalmente, do estado natal do primeiro-ministro, Gujarat.
O acordo entre a Embrapa e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola impulsionará projetos de inovação na produção de alimentos.
Chegaremos à COP30 como líderes na transição energética justa. Mostraremos que é possível conciliar a redução das emissões de gases de efeito estufa com crescimento econômico e inclusão social.
Em agosto, Brasil e ONU realizarão, em Nova Délhi, a segunda rodada do Balanço Ético Global, mobilizando a sociedade civil internacional para a COP30. A candidatura da Índia para sediar a COP33 reforça o protagonismo dos países emergentes na agenda climática.
Brasil e Índia podem ser motores de um novo modelo de desenvolvimento sustentável, baseado em energias limpas. Já somos parceiros na Aliança Global para Biocombustíveis, lançada sob a presidência indiana do G20.
A Índia é o mercado de bioenergia que mais cresce no mundo. O país tem como meta atingir 20% de etanol na gasolina e 5% de biodiesel no diesel. O Brasil, com mais de meio século de experiência, já mistura 30% de etanol à gasolina e 15% de biodiesel ao diesel.
Convidei a Índia a integrar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que recompensará os países que preservam suas florestas.
O futuro da nossa relação também se apoia em dois pilares estratégicos: tecnologia e defesa.
As políticas indianas de infraestrutura digital pública, baseadas em dados, códigos e modelos abertos, contrastam com a concentração das grandes empresas privadas. Queremos criar um centro de excelência conjunto para explorar esse potencial no Brasil.
Temos interesse em ampliar a cooperação na produção de vacinas e medicamentos, fortalecendo o complexo industrial da saúde brasileiro.
Com suas missões à Lua, a Índia se firmou como referência na exploração espacial. Contamos com o apoio indiano para o lançamento do satélite Amazônia 1, o primeiro inteiramente projetado e operado pelo Brasil.
Em um mundo cada vez mais polarizado, a busca por autonomia aproxima nossas políticas de defesa. Desde o início do meu governo, os três comandantes das Forças Armadas brasileiras já visitaram a Índia.
Apresentei ao primeiro-ministro Modi a disposição da Embraer de expandir sua presença na Índia, em parceria com empresas locais, com transferência de tecnologia e capacitação profissional. Os aviões da Embraer podem contribuir para o plano UDAN, que busca permitir que “todos os indianos possam voar”.
Assinamos hoje um Acordo de Cooperação no Combate ao Terrorismo e ao Crime Organizado Transnacional, que ampliará a colaboração entre nossos países. Como parte desse esforço, a Polícia Federal brasileira abrirá uma adidância em Nova Délhi.
O fortalecimento da nossa parceria também exige maior aproximação econômica. Nosso fluxo comercial, de 12 bilhões de dólares, ainda é modesto frente ao potencial de nossas economias. Há 20 anos, vislumbrávamos atingir 15 bilhões — meta que agora pretendemos triplicar no curto prazo.
Desde a cúpula do G20, em Nova Délhi, mais de 70 missões brasileiras de promoção comercial e investimentos estiveram na Índia, enquanto recebemos 40 visitas técnicas indianas no mesmo período.
O Conselho Empresarial criado nesta visita ampliará os canais de contato entre empresários e facilitará a integração de cadeias produtivas. Agradeci ao primeiro-ministro pela recente abertura do mercado indiano ao frango e ao algodão brasileiros.
A ampliação do acordo MERCOSUL–Índia pode ajudar a reduzir barreiras tarifárias e não tarifárias que ainda dificultam nosso comércio. Atualmente, apenas 14% das exportações brasileiras para a Índia estão cobertas por esse acordo.
Caro amigo Modi,
Em um mês será celebrado o Raksha Bandhan, tradição indiana que simboliza o vínculo entre irmãos. Que esse espírito nos inspire a aprofundar os laços que hoje reforçamos com esta visita histórica.
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