Empresários do setor hoteleiro paraense e até corretores de imóveis — que juraram seguir padrões éticos ao ingressarem na profissão — vêm sendo duramente criticados por praticarem preços abusivos nas hospedagens para a COP30, que será realizada em novembro, em Belém, capital do Pará. As denúncias ganharam repercussão internacional. Países em desenvolvimento já relataram à ONU que os valores cobrados na cidade são incompatíveis com a realidade, chegando ao ponto de classificar como “extorsivos” os preços de acomodações modestas, mais altos do que hotéis cinco estrelas em Nova York.
A crise é tamanha que algumas nações sugeriram à UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) a transferência da sede da COP30 para outra localidade. Delegações estrangeiras consideram os preços um “verdadeiro assalto” e ameaçam boicotar o evento. O tema já chegou ao mais alto nível do governo brasileiro. O presidente Lula, ao lado do presidente da COP30, o embaixador Francisco André, criou um grupo de trabalho para enfrentar a questão. Durante a Cúpula do BRICS — onde este jornalista esteve presente como único credenciado atuando no Pará — o presidente Lula foi direto: “A COP30 será em Belém.”
Com a decisão política firmada, cabe agora à comissão interministerial apresentar soluções concretas e eficazes para conter a escalada dos preços de hospedagem. O risco é de que o Pará tenha sua imagem irremediavelmente arranhada perante a comunidade internacional.
Uma pergunta que ecoa entre os paraenses: se durante o Círio de Nazaré, que chega a reunir cerca de 2 milhões de fiéis, não se observa essa explosão nos preços de hospedagem, por que agora, na COP30, essa prática predatória?
Vale lembrar que o evento deixará um legado sem precedentes para o estado. O governo federal está investindo aproximadamente R$ 4 bilhões em infraestrutura, mobilidade urbana, saneamento e outras áreas em Belém. Cobrar preços abusivos é um tapa na cara da sociedade paraense, do governo federal e de todos os brasileiros que veem na COP30 uma oportunidade histórica de desenvolvimento e visibilidade positiva.
Crise se agrava
Após admitir que países pressionaram o governo brasileiro para mudar o local da conferência, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, foi enfático nesta sexta-feira (1º): “Não vamos nos mudar.”
Segundo Lago, Belém tem capacidade de receber o público esperado. O problema, segundo ele, não é de infraestrutura nem de quantidade de leitos, mas sim de preços abusivos e da qualidade das acomodações.
A situação piorou com a informação de que até motéis estão sendo oferecidos como hospedagem para a COP. Um dado da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Pará (ABIH-PA) aponta que Belém dispõe de 4.122 quartos entre hotéis, pousadas e motéis, e que a maioria já está reservada.
Medidas paliativas
Para atender a demanda estimada em mais de 50 mil pessoas, o governo estuda alternativas:
Adaptação de escolas públicas como hostels (5 mil acomodações);
Uso de alojamentos militares e religiosos (3.500 leitos);
Navios de cruzeiro ancorados no porto de Belém (6 mil leitos);
Prédios do programa Minha Casa Minha Vida ainda em obras;
Acomodações na região metropolitana (18 mil unidades disponíveis).
Além disso, foi lançada uma plataforma oficial para hospedagem, com promessas desde maio. As opções incluem hotéis, aluguéis por temporada e navios. Embora muitas acomodações estejam listadas por mais de US$ 300, a organização não esclareceu se esses valores excluem as unidades reservadas a delegações de países mais pobres.

Preocupação internacional
O escritório climático da ONU realizou uma reunião emergencial no dia 29 de julho para tratar exclusivamente do tema. O Brasil se comprometeu a apresentar um relatório até 11 de agosto com medidas concretas.
Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, declarou à Reuters que os países representados não aceitam reduzir suas delegações por conta dos custos elevados.
A consultora Vanessa Robinson, que auxilia ONGs a encontrar acomodações, relata valores inacreditáveis: uma casa cotada em R$ 77 mil — sem incluir os 20% de comissão cobrados por corretores. Organizações do México e da Indonésia relataram ter orçamentos limitados a US$ 150 por diária, valor insuficiente para qualquer opção atual em Belém.
A crise da hospedagem, se não for resolvida rapidamente, poderá comprometer não apenas a realização da COP30, mas também a imagem do Brasil como anfitrião de eventos multilaterais. Ainda há tempo de agir, mas o relógio corre.
Carlos Magno
Jornalista – DRT/2627
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