O sisudo chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, concedeu uma rara entrevista a jornalistas russos durante a XVII Reunião da Cúpula do BRICS, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. O aparato de segurança montado para a ocasião foi inédito, mesmo para os padrões internacionais. Agentes do FSB, o serviço secreto russo, realizaram uma varredura minuciosa no local e submeteram todos os jornalistas — inclusive os já credenciados para o evento — a rigorosos protocolos de segurança.
Para aumentar ainda mais a tensão entre os agentes, o ambiente escolhido para a entrevista possuía apenas uma porta de entrada, sem nenhuma rota de fuga. Esse detalhe levou o FSB a inicialmente vetar a realização da entrevista. No entanto, diante da presença maciça de jornalistas russos já posicionados no local, Lavrov tomou uma decisão pessoal, contrariando seus seguranças: optou por seguir com a entrevista, assumindo todos os riscos.
Embora o público presente fosse majoritariamente da Rússia, alguns jornalistas de outros países também conseguiram participar da concorrida e tumultuada coletiva. Entre eles, o jornalista Carlos Magno, de Canaã dos Carajás, no Pará.
Lavrov chegou cercado por um seleto grupo de operações especiais do serviço secreto russo. Todos os equipamentos de imprensa passaram por inspeções rigorosas antes do início. O chanceler se posicionou no centro da mesa, fez uma breve saudação e deu início à coletiva. Equipamentos de tradução simultânea foram disponibilizados para os jornalistas que não falavam russo.
Durante a entrevista, Lavrov classificou a reunião da Cúpula do BRICS como um sucesso. Discorreu sobre temas da geopolítica global, comentou aspectos internos da Rússia e mencionou a possibilidade de o Brasil vir a integrar o Conselho de Segurança da ONU como membro permanente. No entanto, nenhum jornalista o questionou — e o próprio chanceler também não mencionou — temas sensíveis como a guerra na Ucrânia, o ataque dos Estados Unidos ao Irã ou o conflito em Gaza. A entrevista foi, de certo modo, conduzida pelos jornalistas russos presentes.
Ao final, com sua habitual expressão austera, Lavrov se despediu e deixou o local escoltado por seus agentes de segurança.
Considerado o segundo homem mais poderoso da Rússia — atrás apenas do presidente Vladimir Putin, de quem é o principal conselheiro — Serguei Lavrov exerce enorme influência nas decisões do Kremlin. Sua autoridade ultrapassa inclusive a do primeiro-ministro Mikhail Mishustin. Com um estilo firme e reservado, Lavrov é temido dentro e fora da Rússia, sendo uma figura central na condução da política externa do país.
👁️ Este post foi visitado 268 vezes.